História de Comoção: Público Adolescente



Hordas de adolescentes vestidos de preto lotaram o Espaço das Américas na noite de domingo (7) para ver a apresentação do Evanescence em São Paulo, a terceira da atual turnê da banda pelo Brasil. Para a nova geração de fãs de metal, a vocalista Amy Lee parece ter se tornado uma figura central, inspirando centenas de garotas de maquiagem carregada que circulavam pelo local.
A censura para menores de 16 anos parece fazer pouco sentido, já que a audiência da banda é essencialmente “teen”. Mesmo assim era possível ver gente bem mais nova acompanhada dos pais. Um clima de grande expectativa pairava no ar. Tremendo de ansiedade e nervosismo com a proximidade do show, uma garota acompanhada da amiga comenta com a reportagem: “Tenho 21 anos, mas sou fã da banda desde os 12″.
Com o preço dos ingressos sendo vendidos por quase o dobro da pista normal, o setor “premium”, localizado diretamente em frente ao palco, estava um pouco vazio. Enquanto isso, os fãs mais exaltados se espremiam contra uma grade para tentar ficar o mais perto possível da banda. A plateia parece saber os nomes de todos os integrantes, mas o foco das atenções está claramente em Amy. “A formação antiga da banda era melhor, mas gosto de todos os discos”, diz uma das fãs.
A abertura ficou a cargo do hardcore melódico do The Used. Mesmo seguindo uma fórmula batida, a banda agradou em cheio a plateia, ansiosa e bastante empolgada. Apesar dos integrantes da banda aparentarem estar na casa dos 30 anos, tocam com energia e empolgação de moleques e, com a audiência na mão, fazem um show energético e competente. Antes de tocar a última música da apresentação, que durou cerca de 45 minutos, o guitarrista Quinn Allman causa comoção geral ao tocar o riff de “Smells Like Teen Spirit”.
Alguns testes de som pareciam ser confundidos a todo momento com a própria banda subindo no palco, considerando a reação histérica da audiência. Uma seleção de clássicos do metal ia animando os presentes. Quando os acordes de “The Wizard”, do Black Sabbath começaram a tocar, a reação só não foi maior do que a entrada no palco do próprio Evanescence. Com o baterista Will Hunt fazendo um estilo ogro-viking nos batuques, a entrada da banda ao som dos acordes de “What You Want”, do último disco, foi triunfal, causando histeria completa.
Um dos aspectos curiosos do Evanescence é a teatralidade de Amy Lee no palco, que gesticula e faz caras e bocas o tempo todo. Esse lado “mímico” da banda é prontamente acompanhado por todos. Circulando pelo local via-se braços abertos e mãos girando pelo ar o tempo todo. Até a equipe de segurança parece aderir à teatralidade: um garoto que consegue furar a segurança da pista “premium” é perseguido de maneira quase cinematográfica, e o atendimento de uma garota que, possivelmente, desmaiou por desidratação mobilizou uma equipe enorme e podia ser visto à metros de distância.
Há algo de contestatório na postura dos fãs da banda: a plateia parece uma enorme reunião das turmas do fundão dos colégios. Mas se existe algum resquício de rebelião aqui, é certamente algo seguro e inofensivo. Diferentemente de muitos shows de rock, não há brigas nem confusões, e raramente se vê alguém que parece ter bebido além da conta. Para o bem ou para o mal, a “atitude” do Evanescene é limpa e não oferece riscos. Em resumo: um show para ver com a família.
Após um breve intervalo, Amy volta sentada ao piano para dar início à uma sequência de músicas mais lentas, começando com “Lithium” e seguindo com “Lost In Paradise” e “My Heart Is Broken”. Apesar do som geralmente pesado, o elemento melódico do Evanescence é o que parece causar mais comoção. Todas as baladas executadas durante a apresentação eram prontamente acompanhadas de lágrimas, berros e o tradicional isqueiro aceso na mão.
E lágrimas eram o que mais se via ao final da apresentação, que concluiu com um bis de “Disappear” e “My Immortal”. Olhos negros borrados e mãos com afiadas unhas negras se erguiam ao ar, querendo talvez agarrar um pedaço daquele momento, ou congelá-lo numa pausa eterna. São quase 23h, e filas enormes para pegar o transporte público e voltar para casa esperam do lado de fora. A reação dos fãs é de devoção quase religiosa, mas uma segunda-feira negra e a rotina do dia-a-dia aguardam no horizonte. Como a própria Amy comentou durante o show, não há fãs como os fãs do Brasil.

Créditos: EVROCKBRASIL



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